sexta-feira, 24 de julho de 2009

quarto 2728

pauta para o once upon a time. nem leia se não quiser. Está enorme.
Ela tinha apenas 13 anos. E teve a sorte de conhecer o melhor cara de todos. Teve a sorte que poucos tiveram. Não era um grande amor, nem seu pai. Não era nem da família. Era um professor, seu nome era Fred. Um professor de geografia, que lhe dava aula duas vezes por semana. E para alguns aquelas aulas talvez não passassem de mais uma em cinco, ou então fossem apenas tédio. Mas para ela eram as aulas mais aguardadas da semana. Ele não era um amor platónico, ou nada parecido. Ele era o homem que ela mais admiraria em toda a sua vida. Ele não era tão novo quanto os professores que davam aula aquele ano, pelo contrário, já tinha anos de experiência em sala de aulas. Talvez por isso suas aulas fossem tão hipnotizantes.
E depois de um ano com a presencia inigualável de Fred. Ele sumira. E depois de alguns meses ela descobriu. O homem talvez mais importante de sua vida, estava doente. De cama. Estava internado no hospital.
As lágrimas invadiram seu rosto e de repente lá estava ela novamente, chorando nos braços de sua melhor amiga, inconsalável. Soluçando. Ele parecia tão forte, tão inalcansavel. Ele parecia tão melhor que todos. E agora uma pneumonia qualquer invadira seu organismo e o derrubara completamente.
Ela sabia que iria perde-lo. E essa dor a consumava mais que tudo. E nada lhe tirava da cabeça. Nenhuma palavra consolava. E todo mundo dizendo que ele ficaria melhor era a toa, ela sabia, ele iria embora. A deixaria aqui, nesse mundo, sem conselhos, sem o cara que lhe fora tão necessário durante anos. E que seria necessário até os últimos dias de sua vida. Como seria viver sem ele? Sem um pai? Respirar doía. Cada músculo do seu corpo também. E se contraiam buscando uma forma desesperada de acabar com aquilo. As saudades de meses que tanto a incomodaram não seria nada diante de perde-lo para sempre. Ela sabia que precisaria vê-lo mais uma vez, antes de ir. Sabia que doeria ainda mais ver o homem mais forte do mundo deitado numa cama de hospital. Mas também sabia que nunca se perdoaria em deixa-lo ir sem últimas palavras de conforto. Sem estar ao seu lado. E sem tentar diminuir sua dor. Ele faria isso por ela. Ela iria fazer por ele. Seria forte para uma última visita. Forte como ele lhe ensinou a ser.
E então chegou a hora. Ela não se produzira como de costume. Não passou horas em frente ao espelho nem conferiu 5 vezes o conteúdo de sua bolsa. Ela colocou um vestido, colorido para disfarçar a tristeza em seu olhar que ele não poderia ver. Ou a dor aumentaria. A dor dele, e consequentemente, a dela. Um sapato qualquer e pegou a bolsa sem olhar o que tinha dentro. Lutando contra as lágrimas e treinando os sorrisos. Foi isso o que fez até chegar ao hospital.
Então ela respirou fundo uma última vez diante do quarto 2728. Deixou em sua espera sua melhor amiga e sua mãe. E entrou sozinha. Sorrindo. No quarto do hospital. Ela o olhou, e as lágrimas lutavam para sair. E ela lutava contra elas. Não iria permitir essa fraqueza. Não diante dele. Sorriu ao encontrar seu olhar:
-Fred - a voz vacilou um pouco.
Ele sorriu, e não percebeu a voz dela.
-Olá. Como você... - ela viu sua voz fraca e rouca, mas já sabia o final da pergunta.
-Lá na escola, comentários. Mas eu não contei a ninguém. Só eu e a Camila sabemos, e minha mãe. Elas estão lá fora. - Ele sabia porque, e depois de alguns segundos olhando em seus olhos sabia tudo o que ela sabia, e o sofrimento que lhe estava dominando, e a luta contra as lágrimas, e sabia o quanto seria difícil vê-lo daquele jeito.
-E como vai o primeiro ano? O ensino médio?
-Ahh, difícil como sempre. Sinto falta da sétima série. Todos sentem.
-Mas você tem que ter..
-Força, eu sei. -Ele sempre dizia isso
-Eu acredito no seu potencial.
E então passaram uma tarde inteira conversando, conversando como se nada tivesse acontecido.Relembrando a sétima série. A última tarde em que eles poderiam conversar daquele jeito. E já estava ficando tarde, faltavam alguns minutos para o fim do horário de visitas:
-Obrigada Fred. Obrigada por tudo - E as lágrimas brigavam para sair novamente. -Você não faz ideia de como eu te admiro! Sempre admirarei. - Sorriu relutante, e virou o rosto para que uma lágrima pudesse escorrer livremente.
-Não precisa virar o rosto. -ele pegou no seu rosto e trouxe o olhar embaçado dela de encontro ao dele. E limpou a lágrima de seu rosto.
Ela o abraçou. E começou a chorar em silêncio. Ninguém mais perceberia que estava chorando, só ele. Um silêncio tão bem praticado nunca seria suficiente para disfarçar na frente de Fred.
-Ahh Fred.. - Ela suspirou pela última vez, seria seu último sinal de fraqueza na frente dele. Ela seria forte novamente. E esperou suas lágrimas e seu rosto secarem. O encarou novamente. Ele também estava chorando, mas ela sabia. Podia não conseguir enganar o professor, mas ele também não era bom ator com ela. Ela sorriu tentando confortar aquele homem tão frágil agora.
-Te amo Fred. Eternamente.
Ele retribui o sorriso, lutando pra isso, ela pode ver em seus olhos que ele estava cansado.
-Força Alice.
Ele apertou sua mão. Fechou os olhos. E nada mais seria dito. Aquele seria o ponto final da vida de Fred, junto a Alice, e isso parecia ser bom pra ele, mas incrivelmente triste para ela.
Sua mão começou a perder a força, e ela lutava contra a dor e as lágrimas que não foram permitidas essa tarde, e que estavam prestes a domina-lá. Ela apertava a mão de Fred cada vez mais e ele cada vez menos.
Até perder completamente a força, e a mão de Alice fazia toda a força para elas continuarem juntas. E ela sabia que a única vida que existia naquele quarto agora era a dela. Os médicos entraram, ela não estava aos prantos, estava em choque, apenas algumas gotas escorriam pelo seu rosto. Ela levantou, indo em direção a porta, onde parou, fitou Fred, imóvel e disse:
-Adeus.

10 comentários:

Thaís A. disse...

ó, já que voce falou no começo vou ser sincera: como eu to meio na pressa, não li :/ tá bem grande mesmo!

Léo. disse...

Eu li e tipo...ahh emocionante, vale a pena. (:

'cary. disse...

aaaaah, eu adorei a historia por dois motivos: primeiro porque ela tá linda mesmo e segundo porque não é uma historia comum, pelo contrario. você deve ter pensado bastante pra achar uma historia tão original assim, PARABENS *--*

Mari disse...

Adorei. Muito bom do começo ao fim.
Bj Mari

Marcella Leal disse...

Eu não li, tô comentando nos blogs todos, vim dar um "oi", volto pra ler com mais tempo.

Bj!

Anônimo disse...

meu,primeira vez aki e me emocionei lendo esse texto *-*
mtoo bom,mto bom msm!
;D
vc tem talento garota!

**:

*Lusinha* disse...

Tão triste!
E não sei se considero vantagem ela ter conseguido se despedir... Não sei nem se teria coragem de fazer o mesmo.
Bjitos!

Insights disse...

Ela colocou um vestido, colorido para disfarçar a tristeza em seu olhar que ele não poderia ver. Ou a dor aumentaria. A dor dele, e consequentemente, a dela.
NOSSSSSSSSSAA, me arrepiei inteira. LINDO,LINDO,LINDO, E LINDOOOOO! perfeita essa história! *-* parabéns. te seguindoo.

Daniela disse...

é horrivel perder quem a gente ama. Texto emocionante.

Marcella Leal disse...

Post novo!
Te espero por lá =]